quinta-feira, 29 de outubro de 2009

loucuras da sua mãe


Bebêzinha linda da minha vida...
Semana passada sua mãe fez o que muitos americanos achariam "loucura"...fazer a mesma coisa no Brasil já não tem a mesma conotação, engraçado isso né?

Quando vi a divulgação dum show grande aqui em Columbus fiquei empolgadíssima. No Brasil, sua mãe costumava frequentar shows ótimos, já que suas tias levam sempre artistas maravilhosos para Curitiba. Além disso, Curitiba recebe shows de grande porte regularmente...e sua mãe não recusa a oportunidade, já viu de Chico Buarque à Ivete Sangalo.

Agora hip hop é tããão americano, pensei que nada seria mais adequado para satisfazer minha sede de música e também poderia aproveitar para ver o que não veria no Brasil. Impressionante como americano pode ser o mais caipira, racista ou provinciano, que todo mundo adora e idolatra os MCs. Não tendo amigos aqui, nem famílila para me acompanhar na noite, resolvi que não deixaria de ir só por não ter "companhia". Comprei meu ingresso e fomos!

Começando, o estádio onde foi o show tem capacidade para 21.500 pessoas. Não estava lotado, mas estava beirando isso. Com certeza foi a maior produção que já vi, e depois das minhas experiências já fico imaginando a ficha de produção, o custo daquele equipamento todo, cachê dos técnicos, banda de abertura...

Agora, americanos são pessoas que sempre seguem as regras. Como cheguei cedo, vi que tinha lugar sobrando com uma visão melhor do palco, obviamente sentei bem contente. Os únicos que seguiram meu exemplo foram uns irmãos mexicanos, um deles devia ter uns 18 anos e o outro uns 12. Os outros cidadãos preocupadíssimos com o número de suas poltronas preenchiam os outros níveis de forma irregular, independente da visão do palco.

Show de americano, observei que por mais legal que fosse a banda, por mais que bebessem álcool, ninguém saía de sua poltrona. Ninguém ficava fora do lugar. Só faziam barulho quando provocados pelo artista, pareciam soldados em formação. Creio que prefiro aquela loucura da Pedreira Paulo Leminski, pessoas se batendo, se esfregando, o sapato sujo de lama, gritaria, lugar pra sentar só na grama...Filha, sua mãe não se encaixa aqui mesmo!

Você é a melhor companhia viu? Ficou numa tranquilidade ouvindo o som, a galera gritando...você só mexia nos intervalos tipo "Cadê o agito?". Quanto mais agitado e alto o som mais tranquila você fica. Às vezes você ouve música e bate o pézinho no tempo, acho um barato! Tem horas que você parece criar um ritmo e mexe a mãozinha marcando. Vou admitir, até deu uma tristezinha saindo de lá, no brasil eu teria feito uns 50 amigos até o final do show mas claro, nesse país ninguém fala com estranhos. Mas ter a sua companhia é a melhor coisa, o jeito que você responde quando eu falo, como se vira toda. Olha, apesar de toda dor que esse "pesinho"causa, sei que vou sentir falta de você agitando aqui dentro. Você é absurdamente consciente daquilo que acontece ao seu redor. Sei que quando você chegar vai me doer o coração toda vez que eu tiver que ficar longe de você, pelo menos essa dor não tenho que sentir agora. Fora a facilidade do transporte!

No hospital perguntaram se você fazia ao menos 10 movimentos por dia, o que é considerado normal e saudável. Você, coisinha linda, está mais para 10 movimentos a cada 10 minutos! Considerando sua rotina ativa e horários nada comuns, creio que vou ter bastante trabalho, mas que pessoa interessante que você está se tornando!
Hoje vamos fazer exame, ver se você está crescendo certinho. Vou ouvir seu coraçãozinho forte batendo. Ai que coisa gostosa! Bem que minha amigas dizem: DISSO vou sentir falta. Obrigada por ser essa luz na minha vida. Obrigada por me tornar uma pessoa melhor. Desculpa as piras de grávida da sua mãe, hormônio, choque cultural e família alienada é de tirar qualquer ser humano do sério. Com certeza até você aprender a ler vou ter editado várias coisinha, OU se eu publicar um livro, que nem diz a Lee...Você tem noção o quanto é amada sem nem ter chego ao mundo ainda????

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

dupla cidadã!


Dormi essa madrugada! Da 1 da manhã até as 4! Não sei o que deu em você pra me deixar dormir assim.

A verdade é que só blogo de madrugada. Ainda tô com sono. Minha musculatura dói, costas, barriga, pernas, pescoço. Não vou desenvolver nada hoje...mas vou contar uma boa notícia.


Liguei no consulado brasileiro. Esse tempo todo, esquentei a cabeça preocupada com seus registros, como ia fazer pra tirar seu visto, como seria o processo no Brasil de docs e tudo mais.

Descobri filhinha linda e gostosa minha...que BASTA eu, sua mãezinha ser residente permanente no Brasil e ter te trazido pra cá para você ter sua dupla cidadania! Coisa boaaaaaaaa!!!

Brasil é mesmo um país maravilhoso. Imagina, seu pai podia ser o...papa, que basta o fato da sua mãezinha americana morar no Brasil pra você ter todos os benefícios e direitos de quem nasceu lá. Você já vai viajar comigo com seus dois passaportezinhos, OLHA QUE COISINHA MAIS FOFA!

Legal também é o fato de que, tendo uma filha brasileira, tenho vários direitos e segurança que não tinha antes.


Me sinto poderosa! Fazendo tudo sozinha, partenogénese! Minha dupla-cidadã!

terça-feira, 27 de outubro de 2009

quero paz e arroz...


Por que essa vontade de chorar? Por que tanto desespero? Essas dores não são só por eu carregar essa barriga enorme, por ter engordado feito uma porca. Essas dores têm outra origem.


Tyra Banks é uma top model aposentada que tem seu próprio Talk-show que vai ao ar diariamente aqui nos EUA. Ela parece escolher temas pensando em mim: racismo, relacionamento, maternidade, moda, beleza, auto-estima...Hoje reprisou um programa em que ela fala da violência de mulheres contra homens. Mulheres batem violentamente nos seus maridos ou namorados e os fatos raramente são divulgados, mas é extremamente comum. 1 em cada 4 homens nos EUA sofre de abuso físico, mas são raros os casos denunciados. Não conheço nenhum homem sofrendo abuso, mas acho interessante citar que não é uma questão exclusivamente feminina. Me fez lembrar...


Nunca bati em homem algum, talvez gostaria de ter batido. Talvez não, com certeza. Nunca tive coragem, obviamente, nem de bater em mulher. Nunca precisei brigar, nunca fui fisicamente agredida... a não ser de namorado. Meus pais são pessoas que apesar de terem me disciplinado, apanhei um tanto de cinta já, mas nunca foram violentos ou me bateram com raiva. Sempre me incentivaram à auto expressão saudável. Não tem nada de errado em socar um travesseiro, dar uns pulinhos de raiva...mas não tenho contato com formas violentas de expressão: o bater de uma porta, o socar uma parede, quebrar objetos, etc.


Algumas pessoas com quem me relacionei tinham reações desse tipo. Por exemplo, esqueceram a chave e ao invés de esperar 10 minutos para outra pessoa chegar, a pessoa preferiu socar a janela de vidro até quebrar, xingando, berrando e se ensaguentando todo. Levei um empurrão uma vez no meio de uma briga, outra vez fui agredida numa cena de ciúme. Um sujeito me esperava onde meu carro estava estacionado. Com minhas coisas em sacos plásticos, ele berrava e jogava os sacos na rua com uma cara que nunca vou esquecer. Me xingou de vários nomes (outro fator que acho inadmissível) até que o mandei pra aquele lugar. Ele veio pra cima de mim com as mãos abertas, como se fosse pra me agarrar pelo pescoço, dei as costas pra sair quando ele me agarrou pelo umbro e me chutou no meio das costas. Além da dor física de levar um chute de alguém que é o dobro do seu tamanho, dói muito mais sentir essa dor de alguém que a gente gosta.


Foi bem difícil terminar com ele. Passaram umas três semanas de discussões e debates até eu conseguir terminar o namoro. Gostava tanto dele, mas ele se irritava e me dava um medo terrível. Outro fator, extremamente comum, é ouvir que NÓS é que fomos culpados pela agressão e que, de alguma forma deturpada, nossos atos nos fizeram merecer. Quando vi que ele não pretendia assumir a culpa, nem buscar ajuda psicológica, finalmente consegui fazer o necessário.


Parece que toda vez que ouço uma porta bater, algum objeto jogado com violência ou alguém xingando com aquela cara e aquela voz de raiva, me levanta uma banderinha de alerta e tenho vontade de sair correndo chorando desesperada.


Deus queira que eu possa sempra ter um lugar tranquilo, pacífico e saudável para criar minha filha. Tenho certeza que com um pouco de esforço posso proporcionar essa paz, além do arroz é claro. O amor sei que já já chega...

domingo, 25 de outubro de 2009

substitui um parágrafo por uma foto...

Ser Mãe é assumir de Deus o dom da criação, da doação e do amor incondicional. Ser mãe é encarnar a divindade na Terra. -Barbosa Filho

Filha, acabei de deletar o primeiro parágrafo. Tem coisas que me fazem bem escrever, depois volto, releio e deleto... Quando você tiver idade para ler essas cartas já vai saber tudo mesmo...

Lembro como se fosse ontem do dia exato em que eu reclamava dos meus sintomas de TPM quando alguém sugeriu: "Será que você não tá grávida Kaley?"

Achei impossível, não fazia sentido, pensei: "Que neura! Vou fazer um exame, só pra sossegar..."

Fui comprar o exame de farmácia na mesma manhã, crente de que estava fazendo por desencargo de consciência. Acho que a faixinha ficou azul...será??? Nãããão...esses testezinhos dão errado sempre. Sabia que enquanto não fizesse o exame de sangue não podia tirar conclusões. Achei um laboratório no centro, perto da onde trabalhava, juntei as moedas das gavetas do escritório e fui literalmente correndo, tinha 10 minutos para chegar lá e tirar o sangue para conseguir o resultado no mesmo dia.

Passei a tarde agonizando, mas ainda acreditando que podia ser um erro daquela faixinha azul, que eu podia estar daltônica, que podia ter um defeito de fabricação no teste e quer seria apenas um grande susto.

17:00 horas em ponto, lá estava eu no laboratório, exame em mãos perguntei à recepcionista: "Não é possível que tenha um erro de cálculo, não?"...acho que as pessoas sempre perguntam isso...


Depois do dia 3 de abril minha vida nunca mais foi a mesma. Nunca mais consegui agir, falar e nem pensar da mesma forma. Tive muito medo de não dar conta, de estar me iludindo quanto à minha capacidade de fazer isso sozinha. A verdade é que quando passou a idéia de abortar pela minha cabeça, algo em mim simplesmente não permitia por saber que não estaria fazendo por mim e sim por OUTRA pessoa. Algo em mim me dizia que eu dava conta SIM, que o mundo iria conspirar para que você viesse bem e feliz. Alguma vozinha lá dentro dizia que se eu te entregasse para adoção estaria traindo a mim mesma. Não podemos permitir opiniões alheias mudarem a nossa percepção sobre nós mesmos. Por mais que eu me sentisse só ou realmente estivesse fisicamente só, acreditava em mudança. Sabia que uma vez conformados, que eu teria apoio e ajuda dos meus pais. Sabia o quanto isso traria alegria para eles, sentia que talvez fosse exatamente essa criança que crescia em mim a responsável por reparar as minhas relações perdidas. Sabia que os sacrifícios da maternidade eram sacrifícios que estava disposta a fazer, que de alguma forma você completaria o vazio em minha vida e que aquilo que almejava para o meu futuro seria plenamente cumprido com sua presença. Sabia que era VOCÊ, e não outra criança qualquer, fruto de alguma situação mais "padrão" ou como alguém descreveria como "ideal".

Bom, a prova de você está fazendo exatamente isso filha, sem nem ter nascido, é ter me trazido para os EUA exatamente nesse ano de 2009. Estou aqui para poder descansar, não me preocupar com contas, dormir 12 horas por dia e te dar sua cidadania. Tenho a oportunidade de conhecer meu pai novamente, ter uma relação madura com ele, curtir sua companhia como nunca curti, acompanhar a fase linda que ele passa tendo encontrado alguém para acompanhá-lo. Você me deu a oportunidade de presenciar a evolução da relação dele com a Eliane. Ela, além disso, está sendo uma peça importante na quebra-cabeça que estamos montando agora com a sua chegada. A amizade dela está sendo um presente enorme. Sem você nem a conheceria!

Creio que a relação com a minha mãe há de mudar também. Por vezes me senti sufocada com minha mãe, numa responsabilidade pesadíssima de cuidá-la. No começo, ela não reagiu tão bem à sua chegada e agora já mudou um tanto de perspectiva (óbvio). Ontem ela me disse que vai viajar comigo de volta ao brasil, que vai trabalhar lá por um tempo e não porque ela acha que não dou conta, mas porque ela quer ficar perto de VOCÊ. Foi a primeira vez que ela disse isso, me deixou bem contente...


Você é a responsável por eu finalmente acreditar na minha própria força. Você é responsável por eu estruturar a minha vida, pensar no amanhã e canalizar minhas habilidades profissionais e capacidades intelectuais para definitivamente ser "alguém" na vida. Chegou meu momento. Chegou a hora da sua estréia no mundo e a minha na maternidade. Quer dizer, ainda faltam 5 semanas...

sábado, 24 de outubro de 2009


Paciência, perdão, respeito, coragem...Chega de virtudes, algodão doce, passarinhos cantando e blá blá blá...

Li um artigo interessantíssimo "Como ter um blog de sucesso, ou, como fazer inimigo na internet com um simples post" (http://www.euemeuegogrande.com/?p=585). Não sinto desespero a ponto de adotar todas as dicas citadas, mas uma me chamou atenção: Bajule quem pode te ler e fale mal de quem nunca ficará sabendo. Até digo que tenho coragem de falar mal de quem possa ficar, mas hoje particularmente estou passada com alguém que certamente nao ficará sabendo do que vou escrever.


Meu pai mora aqui nos EUA com meu tio, um dos irmãos mais novos. Como já escrevi, a família do meu pai tem esse lance dos irmãos serem super dependentes, se ajudarem, se apoiarem, terem ciúme e criticarem qualquer pessoa que o outro se relacione. Meu pai e meu tio se ajudaram muito nesses últimos 5 anos de convivência, e acho muito bonito. Verdade seja dita, meu tio é uma pessoa MUITO complicada. Já viram alguém com meu humor crônico agudo? Conhecem aquelas pessoas que acreditam que tem a pior vida do mundo, que são as pessoas mais azaradas, que nunca são felizes?


-"Como foi seu dia tio?"

-"Uma merda como sempre..."


Esse tio, cujo nome não cito, teve um namoro mais sério na vida, uma relação de uns 2 anos, e dessa relação uma filha que agora tem 17 anos. Nunca mais ele ficou com ninguém, e olha que é um homem bonito, inteligente, cozinha super bem, limpa a casa compulsivamente, organizado, tem bom gosto, se veste bem. Detalhe: ele é viciado em futebol americano. Talvez o mau humor absurdo tenha afastado tanto a possibilidade de relação humana que ele a substituiu com "a emoção do jogo". Torcedor roxo, ele passa o jogo inteiro xingando, gritando, jogando pequenos objeto pela casa. Depois de uma derrota, eu e meu pai aguentamos uma média de 6 dias com um mau humor muito pior do que o de costume. Depois dos 6 dias se recuperando, tem outro jogo. Quando o time ganha, fica bem menos mau humorado, mas no caso, esquecer de pequeno detalhe, como deixar alguma sujeira na bancada da cozinha, já é o suficiente para ele agir como se o time tivesse perdido.


O que me incomoda nessa pessoa? Incomoda ser silenciosamente obrigada a ficar trancada no meu quarto quando ele se encontra em casa, não poder usar a cozinha quando ele está porque ele se irrita com a falta de espaço, ter meus banhos cronometrados, receber reclamações diversas sobre coisas inimagináveis (e olha que tenho experiência morando com outras pessoas, nunca é fácil) mas ele se supera a cada dia! Considerando que tenho passado os últimos 13 anos longe dessa família, sem receber qualquer forma de ajuda, incluindo presentes de natal e aniversário ou um simples telefonema para saber se estou bem ou viva, ele se sentiu obrigado a reclamar para meu pai da conta de luz, e o fato de ter "triplicado" (duvido!) desde que vim morar aqui. Ele já reclamou da falta de espaço na geladeira, de uma janela aberta, de um tapete mal colocado, da televisão tela plana estar em canal diferente quando ele chega em casa...a lista continua...


Meu pai se sente super mal de eu não poder ficar à vontade na casa dele e até evita de me contar a maioria das coisas que ele diz. Ele reclama do meu pai pra mim, de mim pro meu pai, nunca está feliz, sempre uma porta batendo, algum objeto jogado com violência...um ambiente nada saudável e tranquilo para uma criança recém-nascida. Meu pai e eu temos medo dele reclamar de você chorar, ou do barulho que eu possa fazer andando pela casa com você...


A vida não é mesmo cor de rosa, mas certamente ajuda ter uma atitude positiva, ao menos de vez em quando! Pessoas que se acham sortudas atraem sorte e vice-versa. Penso que ao menos não tenho precisado me preocupar com aluguel, posso descansar, dormir bastante, procurar fazer outras coisas quando meu tio está em casa, meu pai colocou um frigobar que meu primo me deu no quarto e posso passar quase um dia inteiro sem sair daqui! Tudo se resolve, sempre se resolve...


Filha linda minha, agora faltam 5 semanas! Parece pouco tempo...tá passando devagar...mas num piscar de olhos você vai poder trazer todo esse agito que você faz aí dentro de mim para o mundo! Nunca vi, juro, criança mexer tanto quanto você. Você não dorme mais do que 3-4horas de cada vez, me acorda com cambalhotas, chutes, talvez algumas posições de ioga? Sinto você se esticando inteira aí dentro. Nos livros dizem que na fase final a criança mexe menos por falta de espaço e você foge à regra. Vai ser bom demais ver, ouvir, sentir cheirinho de neném! AI QUE GOSTOSOOOOO...

quinta-feira, 22 de outubro de 2009


Coragem, auto-controle, tranquilidade...continuando com as virtudes almejadas...


CORAGEM:

Faço coisas corajosas de vez em quando. Fiz uma faculdade que aparentemente não dá em nada contra a vontade da minha família porque é o que amo. Decidi ficar no Brasil sozinha sem família porque é onde me sinto mais feliz. Nunca desisti de trabalhar com arte por mais pobre que isso tenha me deixado. Não abortei você mesmo sabendo que teria que fazer tudo sozinha e que não ganhava dinheiro suficiente para te sustentar.

A verdade é que faço tudo morrendo de medo. No fundo, sei desde o começo onde quero chegar mas sempre me pergunto se estou tomando a melhor decisão...me perguntei se devia mesmo fazer teatro, se fazia sentido fazer por amor. Me crucifiquei por ficar no Brasil passando perrengue longe dos meus pais. Pensei que devia criar vergonha e ir trabalhar num shopping, mesmo não sendo capaz de vender nem a alma. Fiquei com medo de não estar fazendo o certo trazendo você para o mundo para ficar comigo. Achei que podia ser melhor te entregar para alguma família rica te adotar e te dar o luxo que eu não poderia. Na verdade falta coragem sempre!

O que acontece então, naquele momento de decisão, para fazermos aquilo que o coração diz, apesar de todos os motivos racionais contrariarem? Minha terapeuta dizia que eu sempre fui mais feliz quando eu decidia com meu coração, que minha razão me afastava tanto das pessoas quanto daquilo que amo. Será??? Acho tão bonito ser racional, pé no chão...inclusive parece ser uma caracerística muito importante para uma mãe.
Vou encontrar um equilíbrio. Vou me obrigar a achar uma forma de seguir aquilo que sinto, aquilo que minha intuição diz que é certo e aquilo que racionalmente faz sentido. Deus me ajude!
Amanhã vou trabalhar no abrigo, preciso aproveitar e dormir um pouco...nada de chegar à grandes conclusões. Talvez eu esteja decepcionando meus leitores. Te escrever estas cartas sempre me faz bem, é isso que importa. Sua mãe precisa lutar para manter a sanidade dela. Será que quando você chegar vou ficar mais louca? Pode ser que isso seja bom...
(jornalistas e perfeccionistas - desculpem meus erros ortográficos, morro de preguiça de corrigir)


quarta-feira, 21 de outubro de 2009

ainda há virtude...


Ontem idealizei virtudes que gostaria de adquirir com essa gravidez difícil e solitária. Há muitas mulheres por aí sendo amadas pelos pais de seus filhos, sendo mimadas, cuidadas, recebendo carinho, ajuda, afirmação, certeza de que em qualquer circunstância alguém que ama a criança tanto quanto ela estará disponível para fazer sacrifícios junto. Essa gravidez está sendo a milésima prova que a vida me traz para mostrar que estou essencialmente só, abençoada por ter tantos amigos, mas sou sim capaz de enfrentar todos esses medos e dificuldades sem nada além da minha própria força e amor pela minha filha.


RESPEITO:

Gostaria de desvolver mais respeito pelo sexo masculino como um todo. Gostaria de ter respeito pela condição de pai. Acho uma função pequena, exige pouco tempo, pouco esforço, pouca dor, pouca alteração física, pouca responsabilidade, pouca preocupação. Creio ser possível exercer a função de bom pai com muito menos esforço que a de boa mãe. Creio que o resultado na vida adulta de crianças que não tiveram bom pai muito menos prejudicial do que o resultado em quem não teve boa mãe. A gravidez por exemplo, exige O QUÊ? Se o pai tiver uma relação com a mãe, o máximo que ele aguenta são as alterações no humor dela, algumas vontades talvez.
Hoje não sou capaz de debate, não tenho argumentos para mim mesma. Tive algumas experiências hoje que me impedem de fazer esse assunto e minha opinião se transformarem em algo positivo. Sei que existem pais ótimos, que fazem coisas maravilhosas e sacrifícios absurdos pelos seus filhos...mas nesse caso não diríamos que estão sendo mães? É possível afirmar que uma boa mãe realmente é capaz de reverter muitos (nem todos) efeitos negativos do pai negligente ou qualquer outro adjetivo negativo? Outro dia, talvez mais otimista, volto a falar sobre esse assunto.


Filha, sua mãe ainda almeja coragem, auto-controle, tranquilidade...fora as virtudes que comentei no último post...e mais algumas que nem tenho iniciativa para enumerar agora. Hoje...um dia mais perto de ver você, um dia mais perto de ter você comigo. O que quero te prometer filha, é que independente do que venha acontecer, você será muito amada. Você terá um amor de mãe imensurável e pessoas maravilhosas por perto que te amarão também. Prometo.

terça-feira, 20 de outubro de 2009


Como você cresce! É engraçado como pessoas sempre que encontram uma criança (ou uma grávida) comentam o quanto elas cresceram. Como algo tão natural consegue ser tão supreendente! Quando era mais nova não entendia a graça de ficar fazendo comentários repetitivos como aquele...devo estar ficando "velha"!
Com a "velhice" adiquirida com a maternidade, eu desejo adquirir outra virtudes ainda não praticadas. Será que vou conseguir? Não tem graça nenhuma virar mãe e não aproveitar para evoluir como pessoa. Aliás, creio que um dos seus propósitos de vida é esse filha: fazer da sua mãe uma pessoa melhor.
PACIÊNCIA:
Já tive que esperar na vida. Meus pais fizeram questão de não satisfazer minhas vontades todas. Por mais que me dessem muita atenção, não fui mimada no sentido material. Na vida adulta, com dificuldades financeiras, profissionais, amorosas...a solução sempre foi agir. Agimos trabalhando, conversando, praticando humildade, compreensão, pensando em soluções, recebendo conselhos...
Agora estou sendo obrigada a ter outro tipo de paciência com essa espera incurável. Sei o que tenho que fazer (comer bem, dormir, me cuidar, me exercitar, tentar me manter psicologicamente sã), mas parece tão pouco! Me sinto pequena e incapaz diante das possibilidades do parto. Me enche de medo pensar que pode acontecer alguma coisa comigo que me incapacitará de cuidar de você. Ansiedade vira impaciência, que vira inqueitação, que vira medo, que vira neura, que vira impaciência para que chegue logo essa data.
Uma amiga mamãe disse que devo aproveitar essa fase antes do choro, da cólica, das fraldas, do vômito, do cocô, da amamentação, das noites mal-dormidas. Já não durmo à noite, minha vida está parada, não tenho trabalho, amigos por perto, atividade rigorosa...não vejo a hora de sentir os cheirinhos bons e ruins, ouvir seu choro, ver sua cara, trocar sua fralda e finalmente ter alguém para passar essas madrugadas comigo! O mundo super-glamoriza gravidez...não me sinto bonita, gostosa, especial, mimada, só sinto vontade de ter você comigo logo! A parte boa é sua vida com a minha... Dificuldades? Ixxx, difícil vai ser quando você crescer, começar a me questionar, dar opinião, tirar carteira, sair de casa, casar...Cuidar de neném é a parte gostosa!!!
PERDÃO:
Que virtude linda essa! Como é lindo recebermos uma ação ou uma palavra que magoa e conseguirmos verdadeiramente perdoar. Esse perdão é uma compreensão que se mistura com humildade para entendermos que nada no universo é unilateral. Temos uma mania narcisista de acharmos que todos devem agir, falar e pensar como nós ("Ah, se fosse eu nunca teria dito aquilo...e se dissesse com certeza pediria desculpas!"). Se simplesmente formos humildes de entender a individualidade no mundo, entendermos que fazer algo que achamos errado não torna uma pessoa "ruim", que pessoas "ruins" não existem, que mesmo com as piores intenções do mundo, nós não somos mais puros ou certos que ninguém, podemos viver plenamente. Falta de perdão é algo que corrói, que machuca mais a pessoa que nega o perdão do que quem ofendeu. Você é minha filha, perdoarei você por tudo e qualquer coisa que possa fazer pois tenho por você AMOR INCONDICIONAL. Quero ter amor incondicional por todas as pessoas que já me magoaram. Será possível? Vou tentar...
Tem outras virtudes que me faltam filha...você descobrirá todas muito antes de ler isso! Hoje já está tarde, você está mais tranquila, vou aproveitar pra dormir. Amanhã escrevo mais. (ah. vou incrementar fotinhas e coisas interessantes pra não ficar só no blá blá blá.)

sábado, 17 de outubro de 2009

Geralmente entro aqui pra escrever e não faço a menor idéia do assunto que vou tratar...


Achei um assunto que me toca. Acabei de passar quase 2 horas escrevendo e corrigindo. Quando fui publicar o google me redirecionou e negou meu login. É isso que dá não fazer essa porcaria no word. Não sei se escrevo de novo que ainda lembro bem o que escrevi, ou se desisto.

Vou mudar tudo...

Nas últimas horas fiquei refletindo sobre as diferenças culturais entre Brasil e EUA, tentei justificar os meus motivos de querer ficar no Brasil, motivos que poucas pessoas entendem. A verdade é que, conforme você for crescendo filha, você vai me ouvir contando várias histórias, exemplificando de mil maneiras. Como já disse, quero que você aprenda a aproveitar o que há de bom nas duas culturas e a respeitá-las.

Ao invés de contar as histórias mirabolantes de amizades, costumes, violência ou racismo. Vou explicar de uma forma mais pessoal. Já contei em posts anteriores como resolvi, ainda criança, a me adaptar à cultura brasileira e vi que é o lugar onde me sinto melhor. Além disso tudo, sou independente. Gosto de me virar sozinha, apesar de ter sido bem difícil passar esses últimos anos. Meus amigos têm sido fundamentais em todas as minhas fases, mas é muito diferente ficar a milhões de quilômetros de pai, mãe, tios ou qualquer outra pessoa com quem você tenha ligação biológica. É muito diferente simplesmente morar sozinha e não ter nem como ligar para as pessoas que fizeram você. Ao mesmo tempo que dá um medo enorme, me trouxe uma espécie de libertação. Não fui uma filha única mimada em sentidos materiais, mas recebi muita atenção, às vezes excessiva. Depois de aprender a lidar com a distância, tanto a física quanto a emocional, minha relação com pai e mãe mudou para o melhor. Passei por experiências importantes minha vida toda, mas as que passei completamente só com certeza foram as que mais me fortaleceram...

Morar num pensionato escuro e fedorento, não ter onde fazer um miojo, não ter uma geladeira para guardar comida, precisar comer cachorro-quente de 1 real por dias consecutivos porque era o que mais me sustentava, dividir banheiro com 50 pessoas que nunca vi na vida, me endividar, sujar o nome da minha mãe enquanto ela viajava, ter medo de não conseguir pagar aluguel, ficar de cama por 15 horas e não ter quem busque água ou remédio, emagrecer, estar endividada e me sentir fraca para trabalhar, conseguir me virar milagrosamente, trabalhar nas mais diversas áreas, reconhecer meus erros...e finalmente, engravidar, morrer de medo, me achar incapaz, me sentir pressionada e perdida sem ter família por perto... foram as melhores provas por quais pude passar. Agradeço muito por tudo, pois acho que tudo aquilo me preparou para sua vinda. Os amigos que fiz nesses anos também me ajudaram a crescer em todos os aspectos possíveis e talvez, se eu tivesse o conforto de família por perto, não teria aprendido tanto.

Desde que saí da casa da minha mãe, certas pessoas foram fundamentais. Cada uma ajudou de um jeito, me deu apoio, carinho, atenção, força, exemplo, ajudas das mais diversas...

Ruan, Augusta, Beth, Luana, Tainá, Rosa, Bina, Marcela, Mariana, Aorélio, Luma, Malu, Manchinha, André, Carlos, Nawbert, Anaterra, Flávia, Aline, Rômulo, Verônica, Wellington, Nyara, Elder, Stéphany, Cecé, Diogo, Keila, Octavio, Péricles, Tathy, Miriam, Rebeca, Maurício, Gilson, Jorge, Helô, Itaercio...só para citar alguns dos mais recentes...

Isso sem contar as pessoas lindas que foram ao seu chá de fralda na casa da Vó Guta, que gostam de mim de graça, as figuras com quem eu passei meus 4 anos da faculdade (bacharelado artes cênicas 2006) meus professores da FAP, as pessoas que me dirigiram, que contracenaram comigo, que trabalharam comigo nas outras áreas, que me indicaram para trabalhos, que me aguentaram grávida (tipo a banda, produção e técnica Denorex 80!), minha turma de psicologia corporal do Instituto Reichiano e professoras, pessoas que se preocuparam comigo antes e depois da gravidez...que me ligaram apenas pra saber como estava, mesmo passando meses ou anos sem me ver!

Fala sério né? Sou uma pessoa abençoada demais! Nunca me faltou esse carinho de amigo e apesar de não ter irmãos, você filha, tem tios e tias de sobra!
Essas pessoas citadas, mais as outras mil que fizereram tanta diferença quanta mas que estou muito cansada para escrever...são alguns dos motivos de eu querer ficar no Brasil. São essas pessoas que quero que participem da sua vida. Agora estou reencontrando minha família de sangue, e ainda ganhando novos integrantes, como a namorada do seu avô. Precisamos dar um jeito de ficar perto de todo mundo. Não quero ficar isolada no Brasil como antes, quero tentar, com sua ajuda, reintegrar as minhas maravilhosas famílias nas nossas vidas!

menino ou menina?

Aqui estou, mais uma vez, acordada a madrugada toda, enquanto você brinca. Tá muito divertido ficar olhando minha barriga enquanto você mexe pra lá e pra cá...fico tentendo adivinhar em que posição você está. Parece que passa cotovelo, pézinho...às vezes você chuta tão forte que meu corpo inteiro parece pular.

Fui fazer meus exames ontem. Você parece estar do tamanho certo. O seu coraçãozinho está sempre batendo bem forte, e dessa última vez você estava com um soluço absurdo! A enfermeira me mostrou exatamente onde ficava a sua cabeça...mas você dificilmente fica parada por mais de alguns minutos. Nunca vi!

Bem no começinho da gravidez eu pensava que queria muito um menino. Pensei que seria divertido, já que na minha família só nasce menina e ia ensinar meu menino a ser o homem perfeito. (...até parece né?) Falei pra minha terapeuta que uma menina não seria bom, porque ela iria absorver todos os meus traumas com o sexo masculino, ia ser a princesinha do papai, ia se basear na relação com o pai (e na minha com ele) para lidar com o sexo masculino no futuro... QUANTA RESPONSABILIDADE!

Deus me deu uma menina! Parece que foi com o propósito de eu resolver essas minhas questões, inclusive a minha relação com o seu pai. Vi que uma das minhas missões de vida, além de te dar a melhor educação, estrutura possível e todo amor do mundo, era também tratar bem e respeitar o seu pai, independente da minha relação pessoal com ele, porque isso seria importante para você se sentir segura e amada. Acredito que o típico modelo "família perfeita" nem sempre basta para uma criança ser feliz, a relação ENTRE pai e mãe conta muito. Portanto, minha missão é nunca falar mal do seu pai pra você, nunca te colocar no meio de qualquer desentendimento que eu possa vir a ter com ele, nunca expor você à qualquer discussão ou briga, nunca te usar como arma para atingi-lo, nunca falar ou fazer qualquer coisa que possa prejudicar o amor que eu quero que você tenha por ele. Meu pai sempre me deu muito amor, apesar das dificuldade de relação que ele teve com minha mãe na minha adolescência, e o quanto foi difícil pra ele me ver crescer, ele me deu muita atençao, muito amor e carinho minha infância toda. Espero que seu pai tenha uma boa relação com você, e mesmo que não seja a relação que eu considere ideal, vou fazer de tudo para você sentir que é muito amada e entender que todo pai e toda mãe, sempre faz o melhor que pode. (Por isso talvez eu precise deletar um parágrafo do último post, mas tenho tempo ainda.)

Quando a namorada do seu avô veio pra cá, ela me deu um presentão! Fomos às compras! Você ganhou cada roupa linda, e o mais divertido, eu pude escolher! Cheguei em casa e fiquei paquerando os conjuntinhos, imaginando como cada roupinha ia ficar com cada sapatinho...uma delícia! Hoje me peguei pensando que quero mesmo uma menina. Não digo isso só por causa das roupinhas, da peruagem...mas porque você, desse vindo desse jeitinho, com o pai que você tem, tem muito o que me ensinar sobre a vida. Com certeza você vai ser a melhor companheira. Mesmo que passemos por dificuldades na nossa relação, estou disposta a te amar do jeitinho que você vier, e acredito que possamos, além de sermos a família mais próxima uma da outra, muito amigas!

Sou louca de amor por você!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

choradeira!!!!

Resolvi, depois de uma crise de choro provocada por um filme de comédia, pesquisar "hormônios". Serão eles os culpados por esse excesso de "sentir"?
Esse link:
http://www.mulherdeclasse.com.br/Hormonios.htm
tem algumas informação bem técnicas sobre o tal bandido. A verdade é que hoje não quero falar, quero ouvir! Quero ouvir alguém falando sobre esse tumulto que sinto sem me chamar de "louca, desequilibrada..."
Esse: http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI839-10520-3,00-MAES+SOLTEIRAS+QUEM+ASSUME+A+FIGURA+PATERNA.html - tem alguns depoimentos bem interessantes, fala sobre a necessidade da figura paterna no desenvolvimento da criança. Com certeza não sou única, primeira e nem última...mas é difícil ver alguma mãe que não sinta MUITO essa falta, às vezes mais do que o próprio filho.

Me parece que meus sintomas são mais característicos de gravidez em solteira do que em mulher casada, ou com namorado. Finalmente achei alguma coisa que parece falar sobre minha situação:

"O filho como produto de uma relação não estável
A chegada de um filho como fruto de uma relação não estável pode ocasionar uma verdadeira emoção na mãe e desencadear os mais variados sentimentos face a uma gravidez que não foi planeada nem desejada. Recusa, temor, vergonha, dúvida, medo e ambivalência são somente algumas das emoções que podem experimentar-se face à notícia. O fato de se tratar de uma situação inesperada costuma originar dúvidas sobre o que fazer, e não são poucas as vezes em que à incerteza se juntam as pressões do companheiro que não quer envolver-se na decisão. A mulher sente vergonha e receio face às explicações que julga dever dar à sua família e amigos, e embora atualmente a sociedade já não discrimine uma Mamãe que está sozinha, o "que dirão" é outro dos receios mais frequentes. Muitas vezes, a ambivalência costuma manifestar-se no fato de que o desejo intenso de ser mãe já estava presente antes de ficar grávida, mas concretiza-se numa situação e num momento que parecem pouco convenientes.

Quando surge a angústia
Quando a mulher enfrenta a maternidade sem um homem ao seu lado e esta situação não foi escolhida, o início da gravidez parece estar definitivamente marcado pela angústia. A tal ponto que durante os primeiros meses é provável que a dor face à situação de abandono, traição ou luto, impeça a futura Mamãe de assumir plenamente o seu estado. Toda a perda – e neste caso não somente do marido mas também de uma família juntos – constitui um luto. Luto que será necessário atravessar para poder enfrentar a maternidade e dedicar-se tanto à gravidez como ao bebê.

Não está sozinha
À medida que a data de parto se aproxima, é provável que a angústia se acentue. Pensemos que habitualmente a gestação coloca a mulher numa situação de dependência respeitante aos outros, de maneira que é natural que face à ausência do marido se sinta sem forças. A verdade é que há momentos em que lhe custa imaginar-se sozinha: o curso de preparação para o parto, o início do trabalho de parto, a sala de partos... Quem me dará alento para continuar a puxar?... Quem me dará o apoio que necessito se me assusto no parto? São somente algumas das interrogações comuns a todas as mulheres, e que numa Mamãe sem marido despertam uma ansiedade ainda maior. Daí a importância que adquire a presença e o apoio da família e dos amigos."


(http://www.meubebezinho.com.br/gravidez040211a.shtml)
-

Bom, o que às vezes me irrita é o fato de que não engravidei de um cara que achei na esquina. Engravidei de uma pessoa que estava NAMORANDO. Mas na vida, tudo tem dois lados, e ele tem os motivos dele por não estar ao meu. Ele justifica a ausência dizendo que sempre estive ciente das complicações na vida dele que o impediriam de fazer qualquer coisa por mim. O fato de conhecer a vida dele ANTES me tira qualquer possibilidade de cobrar atenção. Quanto ao dinheiro, ou possibilidade de relacionamento, realmente não penso nisso. Gostaria apenas de tê-lo como amigo, para sermos cúmplices nessa empreitada. Talvez no futuro a situação mude um pouco, mas enquanto isso faço meus planos como se ele não existisse. Vou ter que contar a verdade pra você daqui uns anos. Talvez eu delete esse parágrafo antes de você crescer o suficiente para ler. Talvez eu delete esse parágrafo quando ele ler e brigar comigo por falar dele na internet, pois estarei, como ele diz: "fazendo da nossa vida um reality show com sua mania caipira de expor tudo..."

A verdade é que não devo nada à ninguém, até porque não estou recebendo ajuda/apoio emocional da pessoa. Minha escolha de falar sobre você e sobre o que acontece comigo tem a função de ME AJUDAR a expressar o que sinto e o que penso durante esse difícil período de espera. Me faz um bem danado e grávida fica um tanto egoísta mesmo!

Quero te dar todo amor do mundo e mais. Não quero nunca que você sinta falta de amor, ou de pessoas que te amem incondicionalmente. Creio que você será tão amável que será um tanto impossível...graças à Deus tenho família e amigos MARAVILHOSOS que estão aguardando sua chegada e como eu, vão te achar o máximo! Isso é o que importa, apoio e amor de família e amigos. Tenho muita sorte!

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

haja coragem!

Ai filhinha! Cada semana parece que demora um ano pra passar!


Hoje fui fazer algo diferente, sair da rotina. Fui voluntariar num abrigo para famílias carentes. É um centro onde famílias ficam temporariamente e recebem necessidades básicas, são encaminhadas para agência de emprego, entram na fila para receber moradia permanente do governo, as crianças são levadas para escola, cuidadas em creches, tem onde brincar...e refeições são servidas. Passei o horário do almoço ajudando na cozinha, servindo almoço, limpando, etc.


Desde que engravidei, todo lugar por onde passo e encontro grávidas elas sempre estão acompanhadas, seja na Mãe Curitibana, no hospital aqui, no mercado, nas lojas, na rua, no shopping...e pra falar a verdade me deprime bastante. Sempre tem alguém, geralmente é o pai da criança, namorado, marido e poucas vezes mães e irmãs. Nunca consegui ninguém pra me acompanhar...sempre amigas oferecem mas não dá certo, mãe ou pai não podem...enfim...faço compra sozinha, vou ao médico sozinha, caminhada sozinha...tudo.


Hoje, além da sensação gostosa de fazer algo por alguém, foi bom ver outras mães completmente sozinhas, como eu. Claro que tenho uma família aqui nos EUA, eles gostam muito de mim, mas não me conhecem. Acho difícil acreditar que eu possa contar com algum deles para me ajudar a cuidar de você, até o seu avô tem a vida dele, o trabalho dele e não pode abrir mão do sono ou do trabalho dele para ficar me acompanhando, nem para me fazer companhia.


Claro que existe uma infinidade de mães solteiras por aí; mas pergunta quantas passaram pela GRAVIDEZ sozinhas! Por mais que relações não dêem certo, geralmente o cara fica por perto durante a gravidez, nem que seja por pressão dos outros (um pai militar ou uma mãe tradicional)! Até as próprias mães preferem ficar com o cara, mesmo que seja um chato, para pelo menos ter apoio durante os meses difíceis. Grávida é carente, precisa de abraço, carinho, cuidado, apoio, ajuda com coisinhas mínimas que parecem ser ridículas...mas fazê-las sozinha é MUITO DIFÍCIL! Sempre que fico desanimada, triste, com raiva, tento lembrar o quanto você vai ser especial e me alegrar.

A verdade filha, é que sua mãe viu que ia ser assim desde o começo. Me vi com a decisão de fazer isso completamente sozinha, ou de não fazer...e decidi que valia a pena te ter. Eu tenho muitos amigos no brasil, mas sempre estive distante da minha família em todos os sentidos. Agora tenho você, minha família toda. Sei que toda essa carência vai passar quando você chegar. Difícil está sendo aguentar essas últimas semanas. Essa luta toda com certeza me prepara para as dificuldades que enfrentarei como mãe. Isso que passo me deixa mais forte que a maioria das mães, pode crer que é prova de fogo filha! Não chego à conclusões profundas hoje...só desabafo mesmo.

Te amo muito...mesmo com essa dor que você me causa quando se alonga aí nesse espaçinho apertado!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

descoberta!!!

Filha! Acabei de fazer uma descoberta! Mas deixa eu explicar porquê...

Já te falei da dificuldade dos seus primeiros meses de vida, da gravidez toda. Além dos sintomas físicos, sua mãe sentiu um medo indescritível. Achei que sozinha nunca seria capaz nem de viajar até os EUA...muito menos passar essa gravidez, o parto, viajar de volta, morar, ganhar dinheiro, viver, te educar bem...

Quando contei pra sua avó da gravidez (ela estava no chile) ela me apavorou quando não pôde garantir que estaria por perto. Seu avô deu muito apoio, foi todo compreensivo, mas estava em outro continente. Me senti a mais incapacitada dos seres. A dificuldade para trabalhar, me concentrar, ganhar dinheiro, pagar comida e aluguel durante a gravidez foi tanta...que o medo foi aumentando. Consegui viajar sozinha, já um grande passo. Aqui eu sabia que algumas preocupações como aluguel e comida seriam minimizadas...mas aí vieram outros medos!

Com as diversas circunstâncias veio o medo de ter que me mudar da casa do seu avô, medo de não ter onde morar, medo de perder o seguro de saúde do governo americano, medo de morrer no parto, medo de não ter quem cuidasse de você na minha ausência, medo de cuidar de você sozinha, medo de voltar ao brasil sozinha, medo da minha instabilidade financeira...medo de você algum dia me culpar por não ter te dado uma vida melhor.

Algumas pessoas acharam que eu devia ter abortado, outras que devia te entregar para adoção para algum casal rico te criar. Já as pessoas que realmente me conheciam, me deram muito apoio dizendo: "SE VOCÊ QUER, VOCÊ CONSEGUE!" Aí vi que minha vontade de ter você era tanta, que logo encontraria a força necessária dentro de mim. Sua madrinha disse: "Kaley, se for para você ser alguém na vida, vai ser agora ou nunca. Então nega, se prepara que de fácil não tem nada, mas É possível."

Hoje conversei com sua avó, que está na califórnia visitando o irmão dela. Logo no começo da gravidez eu tinha falado pra ela que precisava dela no parto, nos meses seguidos e depois para me ajudar na viagem de volta ao brasil. Agora acontece que sua vó está completamente endividada, sem trabalho remunerado há tempos e me acompanhando, estaria se colocando numa posição mais complicada. Falando das possibilidades, de repente veio um sentimento todo diferente.

Quando vi, falei: "Mãe, se não puder voltar comigo, vou entender. Se não puder passar muito tempo aqui em Ohio, vou entender. Mas fica bem, porque dou conta sozinha. Talvez o melhor fosse achar um trabalho por aqui, cuidar das suas dívidas, acertar sua vida financeira e visitar sua neta no brasil depois. De qualquer forma, não tenha medo. Consigo voltar sozinha, me estabelecer, arranjar trabalho e cuidar bem da minha filha. Tô com essa barrigona aqui e do nada, me sinto toda corajosa e cheia de força."

DO NADA! Pode ser que amanhã eu acorde com medo de novo, mas HOJE e AGORA me sinto a pessoa mais forte do mundo. Por algum motivo, que só pode ser divino, me sinto capaz, não apenas de cuidar bem de você, mas de ser a melhor mãe que você poderia ter. Meu amor por você é tão absurdamente grandioso que me encheu de esperança e força que nem imaginei possíveis. Não tenho mais medo do "ser mãe solteira", acabou o receio, cessou minha insegurança. Tenho CERTEZA que vai voltar em muitos momentos, mas serão apenas MOMENTOS. Depois de sentir isso agora, tenho a mais absoluta fé de que tenho capacidade e que independente do que acontecer, tomei a decisão certa, porque você é especial, a SUA VIDA vale a pena e principalmente, vale a pena estar ligada à minha.

domingo, 11 de outubro de 2009

longos meses...

Hoje sua mãe está cansada...tive um dia longo em que fui obrigada a limpar casa sozinha, socializar, dirigir horas nessa cidade terrível ...hehe
Não vejo a hora de você chegar e eu voltar a ter a energia de antes...dá trabalho fazer você sabia? Desde o primeiro mês, tive todos os sintomas possíveis.

Os primeiros três meses foram de angústia, ansiedade, enjôos 24 horas, cansaço absurdo, dores de cabeça, pressões psicológicas, financeiras...
No segundo trimestre continuei tendo enjôos boa parte do tempo, graças à deus só vomitei quando fiquei muito nervosa. Consegui me equilibrar um pouco mais, mas os meses foram pontuados com ataques nervosos de todos os tipos, taquicardias intensas, dores no peito, nas costas, fraqueza, tontura...mas em compensação começei a sentir você mexer e descobri que era menina!
Nestes últimos meses as dores, o cansaço, a carência, o incômodo dos 14 quilos a mais, as juntas, os músculos...o corpo está definitivamente me preparando para uma dor absurdamente intensa! Tudo é mais difícil, mais lento, exige mais esforço. Tanta carência às vezes explode e vira raiva, vontade de explodir, de culpar alguém pela dor, de fazer alguém sofrer o mesmo que eu!

A diferença é que nesses últimos meses você está toda formadinha. Já tem seus horários, e AI DE MIM se não cumprir-los! Você manda e desmanda na sua mãe...é hora de comer: chute na costela...é hora de acordar: chute no umbigo...urgh!...hora de conversar: massagem com pézinho...música alta: aí você relaaaaaxa...

O mais legal, e o que faz TODA DOR valer a pena, é poder ficar apalpando minha barriga sentindo as partezinhas do seu corpo. Fico tentando adivinhar se é cotovelo, pé, mão...às vezes parece que sinto seus dedinhos me fazendo cócegas por dentro.

Só estou reclamando porque você ainda está aí dentro...quero te ver logo! Não vai se enrolar demais aí dentro não, viu?

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

dores

Tenho mil assuntos que gostaria de tratar... falando com a Eliane (Lee!) ela me lembrou de algumas coisas que conversamos. Mas hoje não estou em condições.

Sinto dor, dor, dor...não sabia que ia doer tanto assim Filha!
Fui na pscilóloga hoje, finalmente achei alguém bacana com quem me sinto à vontade para falar. Fez um bem contar um pouca da minha história pra ela, me ajuda a ver o lado bom e o quanto tenho sorte de estar aqui, descansando e podendo te dar sua cidadania americana, que não viria de outro jeito. Fui ao parque fazer uma caminhada, ver os bichos, curtir a natureza, fui no mercado...e quando cheguei estava com uma dor absurda nas juntas. Carregar três sacolas de compras já me cansa, as juntas doem que parecem que vão rasgar...é terrível mesmo.

Estou há uma semana usando um monitor cardíaco por indicação do cardiologista. Senti algumas dores no peito e falta de ar, mas nada como a taquicardia que já tive no passado...mais especificamente 1 vez desde que cheguei aqui no EUA, quando tive uma discussão com uma pessoa.

Hoje tive uma conversa via MSN com essa mesma pessoa. O monitor desparou, deu até medo. Veio um choro na garganta, mas estava tão nervosa, tão triste e decepcionada que nem consegui soltar o choro (que é BEM incomum!). Agora sinto dor no peito, na garganta, na cabeça, na barriga, nas juntas todas. Estou profundamente decepcionada comigo mesma, filha. Não gosto de ter pouca fé, mas às vezes parece que é muito melhorar esperar sempre o pior das pessoas, do que acreditar que elas possam te surpreender com bondade. Tenho um prazer enorme em ajudar as pessoas, gosto de como me sinto quando faço algo por alguém. Às vezes as pesssoas reconhecem seus atos, se tornam seus amigos e quando você precisar, elas retribuem (ainda vou te falar sobre algumas pessoas assim na minha vida). Outras pessoas não dão valor para atitudes amigas, e o que nos resta é apenas a satisfação de saber que fizemos o que acreditamos ser certo. Não gosto de me decepecionar, me sinto idiota por julgar mal, esperar mais das pessoas do que elas realmente podem me dar.

Espero que com a maturidade eu aprenda a controlar minhas expectativas. Não posso idealizar demais, causa uma pressão desnecessária. Não quero fazer isso com ninguém, principalmente com você. Você vai ser uma pessoinha toda independente logo logo...não quero colocar expectativas irreais ou fazer você em momento algum sentir que me decepcionou. Posso te ensinar minhas crenças, minha moralidade, meus conceitos de caráter...mas você vai crescer, ser adulta e vou ter outro papel.

Você tem todo o direito de fazer suas próprias escolhas, e não há nada que você possa fazer no mundo para me decepcionar. Posso não concordar com tudo, posso ficar triste, posso sentir raiva momentânea, posso me culpar, mas estou pronta pra te aceitar como você realmente é.

Você vale toda essa dor. Nem vi sua carinha ainda, mas já sei que você é muito linda e gosta de aparecer. Você é minha família, vai ser minha companheira por muito tempo...então todas essas dores viram dorzinhas. Todo sofrimento do começo da gravidez, toda angústia, a pressão, as lágrimas, a solidão do agora, todas as mudanças que passo VALEM a pena porque você é minha luz.

Agora, que eu vou AMAR quando enfiarem aquela agulha gigante de anestesia na minha coluna na hora do parto, eu vou! E que ninguém me chame de covarde por isso, porque serão 9 meses de MUITA coragem!

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

histórias

Hoje fomos num jantar de família! Pensei muito em família ultimamente, lembrando que só estou aqui por sua causa pequena! Acho que os últimos 13 anos me fizeram esquecer que, apesar das diferenças e falta de compreensão de ambas as partes, minha família é especial e quero muito que eles participem da sua vida também!

Vou contar historinha...
Um casal de italianos, novinhos e cheios de sonhos, consegue, por um incentivo do governo italiano, passagens de navio para os EUA com uma filha. Chegando, estabelecem residência em West Virginia e fazem mais 4 filhos, uma dessas filhas sendo sua bisavó, Angela. Angela cresce, vira mulherão e casa com rapazinho meio inglês, meio alemão que tinha uma avó nativa-americana (índia mesmo) e trabalha com construção. Mal sabia que ele, ao invés de gastar seu dinheiro com os filhos que estava fazendo nela, iria gastar com álcool e OUTRAS mulheres passando a maior parte do seu tempo fora de casa. Angela engravidou 7 vezes e teve 5 filhos, 1 aborto espontâneo e 1 morreu com dias de idade. Algumas dessas gravidezes tiveram intervalo de 10 meses...ou seja, sua bisa estressou muito. Pouco antes de engravidar da última filha, ela estava se preparando para se divorciar e teve uma depressão pós-parto. Naquela época não sabiam o que fazer então deram-lhe tratamento de choque. A bisavó nunca mais foi a mesma, para cuidar dos 5 filhos teve que recorrer às cunhadas e muitas vezes as crianças tiveram que ficar separadas, mudando de casa o tempo todo. Os irmãos sempre souberam que quando tivessem seus próprios filhos, fariam de tudo para estarem presentes, diferentes do pai que tiveram. Sua bisavó precisou de cuidado integral durante os últimos 30 anos de sua vida. Durante muitos anos os 5 filhos revezaram para dar conta, porque italiano nunca põe pais em asilos. Os irmãos até hoje prezam feriados, jantares em família, aniversários, se falam durante a semana e precisam da aprovação uns dos outros para tudo. O único que já morou em outra cidade é seu avô, o mais velho, que conheceu Jesus, resolveu se tornar missionário e foi para Flórida fazer faculdade de bíblia.

Agora outra, menos comum...
No começo do século, muitas famílias judias, de Síria, Egito e região se mudaram para América Central, em particular Panamá. Uma dessas famílias era a de seu outro bisavô. O país recebeu também imigrantes espanhóis, muito ricos que cultivavam imensas fazendas, tinham muitos escravos e praticavam o catolicismo, uma dessas era a da sua bisavó. Quando muito nova, ela foi estuprada e teve uma filha. Um dia encontrou seu bisavô e se apaixonaram loucamente mas, pela diferença religiosa, não puderam casar, resolveram morar juntos e fizeram mais 3 filhos. A família judia ficou indignada com a situação e ameaçou sua bisavó: OU ela entregava 1 dos filhos para nunca mais ver e eles criarem na religião judia OU eles levariam os 3. Acabaram levando sua avó, a mais velha dos 3, na época tinha uns 3 anos. Disseram que ela chorava demais longe da mãe e depois de alguns meses a devolveram e levaram o irmãozinho dela recém-nascido, ainda amamentando. (O menino só foi reencontrar a mãe e os irmãos 13 anos depois.) Sua bisavó, com os 3 filhos que restaram, encontrou um militar americano e casou. Ele adotou legalmente as crianças e levou todo mundo para os EUA. Sua avó, com 5 anos de idade, foi obrigada a nunca mais falar espanhol porque o padrasto não entendia e quando adulta se naturalizou americana. A bisavó, creio que pelo trauma de ter perdido um dos filhos, nunca mais confiou em ninguém e até hoje pensa que o governo americano está atrás dela, que escuta as conversas dela no telefone, que ela não pode gravar a voz em secretária eletrônica que podem a usar contra ela, acha que a filha de 60 anos trafica cocaína e se prostitui, etc etc...

Sua vó saiu um pouco mais normal que a mãe. Casou nova, divorciou, conheceu Jesus, resolveu ser missionária, foi para Flórida fazer faculdade de bíblia, conheceu um cara, namorou um pouco, casou de novo, teve uma filha (eu!), foi para o Brasil ser missionária, separou de novo, aprendeu a se virar sozinha, voltou a ser missionária e hoje em dia viaja o mundo fazendo cursos, dando aulas, sendo missionária e tudo mais que dá na telha. Seu avô, depois de separar, voltou para Ohio ficar perto dos irmãos e hoje trabalha com a indústria do sexo (laboratório de fertilização animal, se fosse pornografia ele morreria de fome!). Ele acabou de conhecer uma brasileira pela internet, gente finíssima que foi quem me deu a idéia do blog e vem esse fim de semana passar pelo teste de aprovação dos meus tios. Agora, na sua maturidade, depois uns 3 namoros sérios ao longo dos seus 55 anos, acho que meu pai finalmente será feliz.

O que quero dizer com tudo isso? Bom, é sempre legal a gente conhecer um pouco da nossa história e ter respeito pelas nossas origens...mas principalmente o que quero passar é que sempre é tempo de recomeçar. Sua vó, seu avô e principalmente eu, estamos todos nos reinventando, não só com as circunstâncias últimas, mas com a sua vinda. O mundo mudou muito no último século e sua mãe pode atestar que mudou nas últimas décadas. Com certeza em algum momento você vai me achar ultrapassada e posso não compreender o seu mundo...mas com certeza se nós duas ampliarmos um pouco a visão, a gente pode reinventar os velhos conflitos mãe/filha e sermos amigas e cúmplices.
AMO MUITO VOCÊ E ESTOU ANSIOSA AO QUADRADO PRA VER SUA CARINHA!!!

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Hoje foi mais um dia difícil, chorei muito, mas tenho consciência de que a culpa é dos hormônios e choques culturais.
Quando cheguei no Brasil, aos 11 anos, lembro que as pessoas falavam muito sobre o tal do choque cultural que nós passaríamos. Lembro que sua vó tentava cozinhar e não achava os ingredientes, seu avô vivia com saudade da comida americana e festas de família. Lembro de sentir falta dos meus amigos, mas além disso, a sensação de perda que meus pais passavam durante meses não durou mais do que algumas semanas em mim.

Estava aprendendo a falar português ainda, só sabia algumas frases: : "tudo bem?" ou "eu não falo português"...e um daqueles primeiros domingos na igreja uma roda de crianças se formou à minha volta e começaram a tirar sarro da minha cara de perdida e falta de palavras. Naquele momento decidi que aprenderia a falar aquela língua e que não teria sotaque nenhum, que me vestiria igual às outras meninas, que conheceria aquela cultura a fundo. Decidi que não seria tratada como "a estrangeira", que não aguentaria passar os anos ouvindo perguntas curiosas e repetidas tipo: "nossa, há quanto tempo está aqui?" ou "por que você veio?" ou ainda "por que você não está lá?" blá blá blá...

Queria ter as mesmas oportunidades e possibilidades que todos os outros brasileiros. Via outros adolescentes americanos que estudavam no colégio internacional e pareciam viver numa bolha, fingindo que ainda estavam nos EUA. Se recusavam a aprender mais português que o necessário, só assistiam filmes americanos, só iam em festas e saíam com pessoas que falavam inglês. Resolvi aproveitar minha experiência ao máximo, aprender tudo que podia.

Com 14 anos, já com aquela pressão de vestibular e decisão que se cria na escola, começei a fuçar o tal "Guia do Estudante". Sendo filha única, cultivei bastante a minha criatividade. Inventava histórias e personagens o tempo todo, apresentava shows e espetáculos para a família...ou sozinha. Li a descrição do curso de ARTES CÊNICAS e tive a certeza total de que precisaria objetivar minha vida para passar na tal faculdade de artes.

Meu pai, que incentivou meu estudos musicais desde os 7 anos, resolveu que teatro não prestava e que não pagaria curso nenhum. Começei a dar aula de inglês para pagar meu cursinho de teatro e me preparar para o vestibular. Desde então, pude experimentar mil facetas da profissão...peças em escola, para adolescentes, crianças, peças experimentais na faculdade, musical, clown em hospital, locução para comerciais, locução para material didático, narração em filme, dublagem, assistência de produção...enfim, todas oportunidades que, se não fosse minha decisão de me encaixar e me adaptar ao ambiente, não teria.

Agora me encontro no meu país de origem, me sentindo uma estrangeira, deslocada. Nunca curti muito minhas visitas ao longo desses 13 anos no Brasil, mas não sonhei que sentiria isso. Sei que estou com uma oportunidade linda de crescer mais, abrir minha cabeça, ser mais flexível, sábia e fazer esses meses em que espero você, alguns dos melhores da minha vida. Mais uma vez filha, tenho que te agradecer por existir, por me trazer aqui, por me reaproximar da família de sangue que eu tinha perdido. Você, sem dúvida, é a melhor viagem e a maior aventura!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

quanto tempo passou...

Muito tempo passou desde que surgiu a minha vontade de ser mãe. Quando tinha 16 anos, namorei um menino de 19 que tinha uma vontade imensa de ter filhos e casar!? Eu, no segundo ano do ensino médio, recebia minha educação sexual de 'Capricho' e 'Atrevida'...e apesar de saber que não era o momento, não tinha a menor idéia de prevenção e acreditei nos métodos contraceptivos "furados" do meu namorado. Depois de uns 4 meses de namoro apaixonado, desconfiei, comprei o exame de farmácia, deu positivo e agendei o exame de sangue para ter certeza.
Numa manhã de dezembro, fiz minha mala e deixei uma carta em cima da minha cama avisando meus pais evangélicos e missionários que não voltaria pra casa. Quando namorado e eu buscamos o exame e partimos para morar na praia, (coisas de adolescente!) me lembro vividamente da minha explosão de raiva no carro parados no sinal: "Viu, seu merda, como não adianta gozar fora!?" (uma dica aí filha)...e as caras dos motoristas que assistiam à cena.
Passamos a semana morando em Matinhos, voltamos com as súplicas diárias da sua vó, enfrentamos as famílias, e iniciamos o processo de pensar na vida com responsabilidade. Ao fazer a primeira ecografia, com toda empolgação de ouvir um coraçãozinho bater pela primeira vez: "o feto se desprendeu da parede uterina". Chorei convulsivamente do laboratório ao hospital para realizar a curetagem de emergência. Cirurgia dolorida e chata, me deixou uma semana hemorragiando quando eu soube que não foi bem feita e voltei ao hospital para fazer outra.
Existem mil explicações para um aborto espontâneo. O namorado ficou do meu lado o tempo todo, passamos juntos pela depressão que durou meses. Ouvir dos médicos que talvez eu precisasse fazer tratamento para engravidar me deixou com a sensação de que o universo havia me dado uma missão à cumprir. Entendi que não era o momento, nem a pessoa certa para eu estar ligada para sempre, mas senti que o dia em que acontecesse de novo, seria certo, daria sentido à minha existência.
Em 8 anos fiz tudo que pude: a faculdade de teatro que sonhei, entrei na pós de psicologia corporal, trabalhei nos lugares mais maravilhosos, aprendi coisas que nem sonhava, conheci pessoas talentosíssimas, casei e descasei, aprendi a me virar sozinha e com pouco, curti baladas absurdas, viajei sem saber para onde ia, dormi no carro, ganhei amigos que se tornaram família, troquei bastante fralda, fiz algumas mamadeiras...e o mais importante nessa jornada toda: fui pra terapia!

É, filha, na terapia deu pra entender meus "processos" (coisa de artista!) e principalmente, me preparar pra sua vinda, ficando mais forte, me conhecendo melhor, aprendendo a me amar. Não está sendo fácil, e quando você chegar vou ter um leque todo novo de desafios para enfrentar. Tenho que admitir, não esperava você esse ano, não achei que estava "pronta" ou "estável" o suficiente. Hoje, vendo você mexer o tempo todo (principalmente de madrugada!), sentindo você passar o pézinho embaixo da minha mão e sentindo a força sobre-humana dos seus chutes, tenho certeza de que você é alguém muito especial, que vem mudar minha vida para o melhor e que esse amor VALE A PENA!

a idéia...

Estou te esperando há 6 meses, você tem 7 meses de idade dentro de mim. Nunca na minha vida senti o mundo girando tão lentamente...e preciso canalizar meu tempo e energia para algo útil e criativo. Depois explico melhor minha "desocupação".

Ontem conversei com a namorada do seu avô (sim, seu avô acaba de arrumar uma namorada) e ela genialmente deu a idéia de eu escrever pra você, te contando o que estou passando e sentindo. Eu, no seu lugar, adoraria saber o que minha mãe passou enquanto eu crescia...então te escrevo. "Cartas de Fada" porque sei que apesar de toda reviravolta, tem um final bem feliz esperando a gente. Outro motivo é que você, pequena assim, é minha fadinha, minha protetora, meu guia, meu começo e final feliz...aí como sua mãe é metida à criativa, quis achar um nome bacana.

Amanhã tenho que acordar bem cedo. Vou fazer teste de direção pra tirar minha carteira de motorista norte-americana. Nada divertido, sendo que já dirigo no brasil há mais de 6 anos (e sou excelente no volante por sinal), mas necessário...pois americanos não gostam de "infringir" a lei. Ao longo da sua vida, você vai ter que compreender essas e mais milhões de diferenças entre as duas culturas que compõe sua identidade. Não é nada fácil...mas vai te enriquecer muito se você souber amar e respeitar essas origens. Por muito tempo, sua mãe achou que ela seria feliz se esquecesse uma delas. Ela achou que seria mais fácil esquecer aquilo que não entendia, ou que doía. Você, filha amada, está sendo uma peça importante no crescimento da sua mãe nesse sentido...depois explico melhor, tá?

Filha, de todas as coisas que quero te ensinar, uma das mais importantes é o respeito. Respeito, porque ele leva ao amor, à compreensão, à sensibilidade, à evolução em todos os sentidos...
Se você souber respeitar suas origens (num sentido bem amplo, viu?), você vai se amar...e você se amando filha, vai ser capaz de amar verdadeiramente quem está à sua volta...e acredito que isso é um passo importante pra ser feliz.

Obrigada por existir filha. Obrigada por vir ao meu mundo, e em tão pouco tempo me ensinar tanta coisa. Isso que vem MUITO mais pela frente...