quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Hoje foi mais um dia difícil, chorei muito, mas tenho consciência de que a culpa é dos hormônios e choques culturais.
Quando cheguei no Brasil, aos 11 anos, lembro que as pessoas falavam muito sobre o tal do choque cultural que nós passaríamos. Lembro que sua vó tentava cozinhar e não achava os ingredientes, seu avô vivia com saudade da comida americana e festas de família. Lembro de sentir falta dos meus amigos, mas além disso, a sensação de perda que meus pais passavam durante meses não durou mais do que algumas semanas em mim.

Estava aprendendo a falar português ainda, só sabia algumas frases: : "tudo bem?" ou "eu não falo português"...e um daqueles primeiros domingos na igreja uma roda de crianças se formou à minha volta e começaram a tirar sarro da minha cara de perdida e falta de palavras. Naquele momento decidi que aprenderia a falar aquela língua e que não teria sotaque nenhum, que me vestiria igual às outras meninas, que conheceria aquela cultura a fundo. Decidi que não seria tratada como "a estrangeira", que não aguentaria passar os anos ouvindo perguntas curiosas e repetidas tipo: "nossa, há quanto tempo está aqui?" ou "por que você veio?" ou ainda "por que você não está lá?" blá blá blá...

Queria ter as mesmas oportunidades e possibilidades que todos os outros brasileiros. Via outros adolescentes americanos que estudavam no colégio internacional e pareciam viver numa bolha, fingindo que ainda estavam nos EUA. Se recusavam a aprender mais português que o necessário, só assistiam filmes americanos, só iam em festas e saíam com pessoas que falavam inglês. Resolvi aproveitar minha experiência ao máximo, aprender tudo que podia.

Com 14 anos, já com aquela pressão de vestibular e decisão que se cria na escola, começei a fuçar o tal "Guia do Estudante". Sendo filha única, cultivei bastante a minha criatividade. Inventava histórias e personagens o tempo todo, apresentava shows e espetáculos para a família...ou sozinha. Li a descrição do curso de ARTES CÊNICAS e tive a certeza total de que precisaria objetivar minha vida para passar na tal faculdade de artes.

Meu pai, que incentivou meu estudos musicais desde os 7 anos, resolveu que teatro não prestava e que não pagaria curso nenhum. Começei a dar aula de inglês para pagar meu cursinho de teatro e me preparar para o vestibular. Desde então, pude experimentar mil facetas da profissão...peças em escola, para adolescentes, crianças, peças experimentais na faculdade, musical, clown em hospital, locução para comerciais, locução para material didático, narração em filme, dublagem, assistência de produção...enfim, todas oportunidades que, se não fosse minha decisão de me encaixar e me adaptar ao ambiente, não teria.

Agora me encontro no meu país de origem, me sentindo uma estrangeira, deslocada. Nunca curti muito minhas visitas ao longo desses 13 anos no Brasil, mas não sonhei que sentiria isso. Sei que estou com uma oportunidade linda de crescer mais, abrir minha cabeça, ser mais flexível, sábia e fazer esses meses em que espero você, alguns dos melhores da minha vida. Mais uma vez filha, tenho que te agradecer por existir, por me trazer aqui, por me reaproximar da família de sangue que eu tinha perdido. Você, sem dúvida, é a melhor viagem e a maior aventura!

Nenhum comentário:

Postar um comentário